segunda-feira, 14 de março de 2011

Contrário, avesso e arbitrário




Nestes últimos dias, um acontecimento desagradável e de fato revoltante, segundo o meu ponto de vista, se deu.
Toda a população da cidade (Volta Redonda) já notou o carinha que fica na passarela que liga o Aterrado à Amaral Peixoto segurando uma placa escrito “Jesus te Ama”. Bem, este individuo, até a citada ocasião, era apreciado e admirado por mim por ter um gesto tão bonito. Até que, em uma manhã de sábado, eu acompanhada de uma amiga que estava vestida com uma blusa de Nossa Senhora das Graças passávamos pela passarela e o rapaz ao ver a imagem na blusa começou a apontar para nós e dizer que tínhamos que abandonar o mundo do pecado, hábitos e crenças que eram do demônio,  que iríamos para o inferno e etc. Isso mesmo! Ele disse estas coisas.

Hoje, no trajeto do jornal para a faculdade, passei novamente por ele na passarela. Ele estava contido e silencioso quando o vi à distancia, foi eu me aproximar e ele me ver para começar seu discurso. Ele GRITOU e APONTOU pra mim dizendo: “Você tem que sair da vida de pecado! De abraçar práticas e costumes do demônio! De andar como uma prostituta!...”
Sim! Ele GRITOU isso se voltando pra mim!

Agora eu vos pergunto meus caros leitores e amigos, QUEM É UM SIMPLES E MORTAL SER HUMANO PARA ME JULGAR DESTA FORMA SEM AO MENOS ME CONHECER?
Mesmo que eu me comportasse e andasse como uma prostituta, mesmo que eu fosse uma, nem este individuo, nem ser humano algum deste mundo poderia me julgar por isto. Mesmo que eu estivesse trajada com uma roupa vista como indecente ou vulgar pela maioria das pessoas (o que não é o caso), ainda assim ninguem poderia me julgar. Ninguem é imaculado, correto, perfeito, superior o suficiente para ter direito de menosprezar, julgar ou ofender outra pessoa, por pior que ela seja ou aparente ser.

Vale lembrar que o próprio Jesus em sua magnitude e perfeição absolveu Maria Madalena, prostituta da época. Jesus a perdoou, a livrou de ser apedrejada. Cabe inclusive citar a famosa frase que Ele utilizou para tal: “Atire a primeira pedra quem nunca pecou”.
Se o próprio Filho de Deus não condenou uma prostituta, quem é um simples e pobre ser humano para condenar qualquer ato ou pessoa que seja?
Eu que obviamente como não suporto desrespeito, preconceito e intolerância me vi no direito de defender meu ponto de vista, livre arbítrio e liberdade de acreditar, ser e professar a fé que me convém, por isso resolvi utilizar este espaço para este fim.

Não cabe aqui discutir religião, questões teológicas, fé ou crenças. A questão que levanto com este post é a arbitrariedade, contradição e especialmente FALTA DE RESPEITO (que pra mim é essencial em toda e qualquer situação).

O Amor passa pelo respeito, quem diz que ama à Deus deve amar também seu semelhante INDEPENDENTE de Crença, habito... (e isto é base de qualquer religião), e se ama seu semelhante o respeita consequentemente. E este é um dos maiores desafios do amor, amar e se doar ao outro conhecendo seus piores monstros, suas maiores mazelas e defeitos, e mesmo discordando muitas vezes de atitudes ou pensamentos. Assim como na fé, um dos maiores desafios muitas vezes é Amar o próximo. Pois muitas vezes o próximo é aquele que um dia te fez mal, que te caluniou, que pisou em você, que te odeia, que te traiu, que tem atitudes adversas às que você acredita e defende...mas é essa a pessoa que mais precisa do seu amor. Mas quando o Amor é de fato Amor ele supera tudo, ama mesmo sendo imperfeito, mesmo discordando, mesmo sabendo das imperfeições, mesmo conhecendo a pior faceta.

Agora como pode alguém ser autor de uma atitude tão bonita de querer levar o amor de Deus às outras pessoas e ao mesmo tempo não respeitar seu próximo, não aceita-lo, JULGÁ-LO?!

Todos somos livres para acreditarmos e agirmos da maneira que quisermos, que acharmos conveniente, ninguém é onipotente ou superior o suficiente para julgar uns aos outros. Se Deus que é Deus instituiu o livre-arbítrio por que um simples ser humano se julga digno de interferir nele e oprimir as escolhas alheias?! Será que ele é tão superior a ponto de sempre fazer as melhores e mais perfeitas escolhas?!

Tenho muitos amigos evangélicos, protestantes, espíritas, agnósticos... e o que mantém nosso relacionamento é o RESPEITO, o Amor. Temos em comum o Deus em que acreditamos e o fato de seguirmos diferentes denominações, crermos em diferentes religiões, procedermos de maneiras distintas frente algumas situações, não significa que temos que ser inimigos, que não possamos conviver, ou ainda que sejamos superiores uns aos outros.

Jesus amou até o pior dos pecadores, quem somos nós pra julgarmos erros, acertos ou escolhas alheias?
A humanidade jamais pensará em conformidade absoluta, e até as divergências de pensamento, as distinções de ponto de vista são belas. As diferenças enriquecem o mundo.
Tenho e amo minha religião, nada que digam ou façam mudará isto, não espero que pensem como eu, nem é minha pretensão convencer alguém de que minha escolha é a correta, mas Respeito é Fundamental, indispensável e eu não abro mão.

Como disse, não cabe entrar em questões teológicas, tenho minhas convicções, minha fé, e não preciso convencer ninguém a acreditar nelas para que eu acredite, mas vale a pena refletir sobre a postura que temos diante de nossas crenças até porque, ao invés de ela ser afirmativa e congruente pode acabar sendo contraditória.

Não é julgando, ofendendo, fazendo juízos de valor a respeito de alguém que sequer se sabe o nome que se conseguirá transparecer Jesus e levar o amor de Deus a quem quer que seja. Ao contrário, todo amor que é amor de fato é involuntário, independente de raça, escolha, credo, sexualidade, opção sexual, condição monetária... Simplesmente existe, rende furtos, inspira transformações, age desinteressadamente pelo simples prazer de ser útil, de ver o bem, de fazer algo bom. Simplesmente Ama.



“Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que escolhemos dizer. É simples...” (Padre Fabio de Melo)

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