quinta-feira, 10 de março de 2011

Nascer, crescer, reproduzir e morrer?





Há muito tempo me perguntei por qual motivo eu vivia, a que se deveria o fato da minha existência. Na escola quando cursava o primário alguém me ensinou que o ser humano Nasce, Cresce, Reproduz e Morre. A primeira vez que ouvi isso questionei: “É só?!”

Na minha limitada sabedoria de criança encontrei uma das minhas primeiras dificuldades: aceitar esta teoria.
Por muitos anos tentei descobrir porque eu e não outra pessoa, porque eu tinha vindo ao mundo, e apesar de não saber a resposta tinha certeza de que não poderia apenas nascer, crescer, reproduzir e morrer. Tinha que haver algo mais, porque tudo era simples demais, limitado demais...

Cresci um pouco e enxerguei um mundo além do cor de rosa, além dos contos de fada, das brincadeiras, dos desenhos animados e da simplicidade daquela teoria.
O mundo que já havia antes mostrado parte de sua faceta desde que eu tamanho suficiente pra passar correndo debaixo da mesa da cozinha da casa da minha avó, se mostrou ainda mais apavorante em determinado momento.

Pessoas capazes de matar umas as outras, capazes de fazer mal a seus semelhantes... Um mundo onde a “verdade é o avesso e alegria já não tem mais endereço”, como diz uma das letras que eu adorava ouvir nas tardes cinzas da minha adolescência.
Um mundo onde o dinheiro dita todas as regras e é o que mais importa, onde quem detém o poder e deveria proteger  e zelar pelo povo é quem mais o oprime, escraviza, explora e massacra.

Um mundo cheio de preconceitos onde o negro só pode ser pobre, favelado, ladrão, bandido ou mendigo. Onde todo morador de comunidade é traficante ou vagabundo. Onde todo homossexual é viado, lésbica é sapatão.
Um mundo cheio de avessos, contrastes e contradições. Enquanto uns passam fome, outros jogam comida no lixo. Enquanto uns moram em barracos ou sob pontes, outros desfrutam de mansões. Enquanto uns sobrevivem com um salário mínimo conquistado com no mínimo 8 horas de trabalho, outros instituem seu próprio salário por mínimas horas de expediente (quando há), e desfrutam de mais de R$ 22 mil com benefícios.

Quando as portas deste mundo se abriram pra mim tive a certeza de que não poderia ser uma vitima do acaso e simplesmente nascer, crescer, reproduzir e morrer.
Por uns tempos acreditei que eu poderia ser uma Mulher Maravilha e ter poder de mudar mundo e carregá-lo nas costas. Depois quis ser apenas uma jornalista que mudaria o mundo mesmo. rs
Hoje não me vejo com super poderes e nem acredito que sejam necessárias atitudes tão grandiosas e inacreditáveis...

Cada atitude tem poder transformador, para o bem ou para o mal, a escolha está em nossas mãos
.

Talvez não tenha forças ou as forças que eu possuo não sejam suficientes para mudar o mundo em sua totalidade, mas pequenos gestos têm força suficiente para mudar o mundo existente ao meu redor. Um sorriso num dia ruim pode torná-lo bem melhor e acabar deixando o dia de outras pessoas melhor também já que interferimos diretamente na vida uns dos outros.
Já ajuda ser o melhor que puder ser, o melhor amigo (a), a melhor namorada (o), o melhor filho (a), melhor funcionário (a), melhor pessoa. A única coisa que deixamos de fato são os registros do que fomos e do que fizemos, é a maneira como nos portamos, o quanto significamos... são essas coisas que farão com que nossa presença se eternize na memória dos outros, com que sejamos lembrados com carinho, saudade, ou desprezo e mágoa.

E tudo o que de fato importa e de fato tem valor é tudo que o tempo não é capaz de apagar, tudo o que dinheiro nenhum é capaz de comprar e pessoa alguma capaz de roubar.

Talvez eu só descubra o propósito da minha existência quando ela deixar de existir, mas já descobri o necessário, independente dele, posso afirmar que não é tão simplório e “inútil” quanto apenas nascer, crescer, reproduzir e morrer. O que está por entre estas etapas importa muito mais.

“Se minha existência não for capaz de transformar a vida de alguém para melhor, então ela é totalmente dispensável”.

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