quinta-feira, 28 de junho de 2012

Certeza





Nunca saberemos até onde pode chegar a maldade humana até que alguem transceda os limites do acreditável e imaginável.
Vimos uma filha tramando e matando os proprios pais em nome da cobiça, da ganancia e do dinheiro.
Vimos uma mulher decepando e esquartejando o proprio marido, mesmo depois de ele ter dado tudo a ela e assumi-la como esposa tirando-a da prostituição. Vimos pais estuprando filhas, homens violentando crianças.

Pessoas se usando da fé alheia para enriquecer e até abusar de crianças, e tantas outras atrocidades.
Depois de conhecer pessoas que mentem olhando nos olhos, que finjem sentimento chorando discimuladamente, sinto que posso esperar tudo de qualquer pessoa, mas ainda me surpreendo com as novas noticias, relatos e histórias que chegam aos meus ouvidos. Na verdade torço pra que seja sempre assim. Temo o dia em que não me causar espanto tantas atrocidaes e o grau de violência a que as pessoas são capazes.

Temo que a chama que me mantém viva se apague. No dia em que não me comover mais com as histórias, não me assustar mais com certas situações, certamente olharei no espelho e não me reconhecerei mais.
O ser humano pode se adaptar e acostumar com a maioria das circunstancias, mas espero nunca me acostumar em ver trajedias - mesmo e especialmente estando proxima a boa parte delas devido a minha profissão. Assassinatos não podem ser vistos com naturalidade. A maldade não pode ser aceita como uma condição humana; porque não é.

Ainda que eu carregue o peso de todas as dores do mundo, ainda que pese, que doa, que machuque e canse, nao posso me conformar. É por isso que eu luto. Viver sem ideais é impossivel. Deve haver mais do que compras, roupas, beleza, baladas... Viver trabalhando com intuito de garantir o proprio sustento ou dinheiro, viver apenas de baladas e noites que sempre terminam e quase nunca deixam nada relevante, viver pra encontrar alguém que some e complete, se casar, ter filhos e morrer me parece tão fútil, tão pouco, tão pequeno. Tenho sonhos maiores... aspirações maiores e ao mesmo tempo 'menores', talvez.

Meu trabalho gira em torno do que acredito, além do salário no fim do mês. Aliás, se trabalhasse pelo salário apenas, teria escolhido outra profissão. As vezes, quase sempre, é cansativo ser jornalista - especialmente da editoria policial. Ver gente morta, assassinada, ouir relatos de mãe de traficantes, de mulheres que perdem seus filhos e maridos ou os vêem presos e sendo transferidos não é fácil.
Olhar na cara de estupradores, de pedófilos, ver a fragilidade das crianças vítimas dessas mostruosidades e presenciar pessoalmente o estrago causado por esses crimes não é nada fácil.

Presenciar mulheres vítimas de suas proprias escolhas, do mau caratismo e covardia de seus namorados e maridos; vê-las chegando com hematomas no rosto, no corpo, na alma depois de uma agressão; presenciar o limite da possessividade  e o nivel de obsessão, de egoísmo que resulta em crimes passionais; ver filhos que perdem suas mães assassinadas e seus pais por serem presos... não é facil.
Todavia, cada escolha tem sua abdicação e consequencia. Não há como fugir disso.

Já me disseram que a sociedade não merece meu esforço, meu sofrimento, minhas lagrimas, meu trabalho. Que as pessoas não se importam se alguém é assassinado, se há pessoas se drogando e outras ganhando dinheiro as custas do vício alheio, querem apenas satisfazer sua curiosidade. Mas não consgo fazer o básico, o simples, o pouco se há possibilidade de fazer mais, bem feito e direito. 
E ainda que seja verdade, que muitos só saibam criticar sem sequer ter idéia do trabalho, do esforço, da dificuldade; ainda que nignuém se importe, eu me importo.

Ainda que não mereçam minhas crises de gastrite nervosa, minhas preocupações, sacrifícios... Ainda assim eu me importo. Se alguém além das familias afetadas não se importa e faz de uma vítima apenas estatística, eu me importo, ainda que isso não faça diferença. Não é apenas escrever matérias, é informar, trazer a tona. Forma de cobrança, maneira de dizer que há alguém vendo, que não são apenas corpos; são pessoas.

Por isso jamais vou me conformar ou acostumar. Ainda que veja milhares de assassinados, ouça diversas histórias de atrocidades, nunca quero deixar de me sensibilizar ou importar.
Talvez isso seja Amar. Não só amor pela profissão que escolhi - ou melhor, que fui destinada a exercer, mas às pessoas, ainda que não tenha as conhecido ou convivido com elas.

E quando me perguntarem "porque",  é o que poderei dizer. "A troco de que?!" Talvez não tenha resposta imediata, mas não teria sentido estar viva se não fossem os ideiais que carrego, essa é uma certeza.   



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