A especialidade da diferença

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Esta semana algo muito importante aconteceu na minha família. Nós fomos presenteados com uma dádiva de Deus à 18 anos atrás, e ele é a chave deste acontecimento importante.

Desde os primeiros meses notamos que meu irmão não era como as outras crianças, apesar de não aparentar diferenças físicas era notável por suas atitudes. Falar, andar foram tarefas tardias na vida dele.

Me lembro perfeitamente do da primeira palavra. Ele tinha 5 anos, estávamos de mãos dadas no corredor da casa da minha avó, onde morávamos na época, em frente a porta do banheiro onde minha mãe tomava banho. Eu o incentivei a chamá-la e ele disse sua primeira palavra: “Mãe”. Hoje fala tanto quanto a irmã, cabe ressaltar.

Nenhum profissional soube dizer precisamente o ‘problema’ que meu irmão possui. Fato que a idade cronológica dele não acompanha a mental, que é atrasada.

Bem, esta semana tivemos uma vitória, ele voltou da escola sozinho de ônibus pela primeira vez. O que para muitos é uma tarefa simples e corriqueira para ele foi um grande passo e para nós uma alegria muito grande. Eu nem preciso dizer que fiquei orgulhosa neh?!

Hoje decidi compartilhar este fato, um fragmento da minha família, porque infelizmente ainda é comum escutar expressões como: “retardado”, “maluco”, “doente”... Adjetivações repletas de preconceito, maldade, ignorância e falta de compaixão.

Tenho certeza de que minha família recebeu um presente, Leandro é uma dádiva de Deus e veio para engrandecer e ensinar-nos muitas coisas. Ele tem qualidades que não são limitadas por seu desempenho mental, é educado, gentil, sempre tem um sorriso no rosto e abriga um coração imenso.

Deficiente é quem não é capaz de amar, perdoar, se sensibilizar e se compadecer.

Há tantos que têm saúde mental, física, corpo perfeito e ainda assim não são felizes, não sabem reconhecer no outro sua imagem, vivem se lamentando mesmo tendo todo o necessário para um vida digna.

Saber conviver, aceitar as diferenças, respeitá-las acima de tudo é essencial e fundamental. A beleza não mora apenas no comum, no dito “normal”, no convencional. Ter carência de alguma coisa não faz de ninguém inferior ou incapaz, ao contrário, torna ainda mais especial por ter um obstáculo a mais pra se superar todos os dias.

Por mais que meu dia não seja tão bom, por mais que ele me apresente desgastes, estresses, por mais que as coisas não saiam em conformidade com minhas aspirações e desejos, minhas noites são sempre abrilhantadas pelo meu irmão que me pede a bênção e não vai dormir antes de me ouvir dizer: “Deus te abençoe. Dorme com Deus”

Só quem tem a oportunidade de conviver com alguém tão especial entende em sua completicidade a beleza e dádiva da diferença.

Que o mundo tenha a humildade, consciência e percepção de enxergar cada pessoa como parte do todo, como alguém digno de respeito e cada portador de necessidades especiais como um exemplo, mas também como um ser humano como qualquer outro, provido de direitos, deveres e sentimentos.